CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL:
O Realismo tem origem francesa.
Historicamente, o francês Gustave Coubert tornou-se um precursor do movimento,
ao dar o título “O realismo” a uma exposição de quarenta telas realizada em
Paris, em 1855. Sua intenção era fazer uma “arte viva”, que “retratasse os
costumes, ideias e aspectos de sua época”. O pintor objetivava a sinceridade na arte, em oposição à
liberdade artística do Romantismo.
Coubert e outros contemporâneos,
como Honoré Daumier (1808-1879), Jean-François Millet (1814-1875),
privilegiaram as cenas de grupos sociais desfavorecidos.
Igual posição foi assumida por
alguns escritores, que viam na arte a função de educar e retratar a sociedade, como os escritores franceses Gustave
Flaubert (1821-1880) e Émile Zola (1840-1902).
Gustave Flaubert (1821-1880) impulsionou o Realismo Literário ao
publicar, em 1857, o romance Madame
Bovary, uma análise bastante impiedosa da ideologia burguesa romântica.
Ferozmente antiburguês, Flaubert faz
a caricatura do modo de vida da burguesia, ridicularizando, acima de tudo, o
casamento falsamente moralista. Ele foi bastante imitado pelos realistas
portugueses e brasileiros.
CARACTERÍSTICAS DO REALISMO/NATURALISMO:
O Realismo/Naturalismo é uma arte
engajada; tem compromisso com o momento presente e com a observação do mundo
objetivo e exato.
a.
Presença do cotidiano
Os
realistas-naturalistas consideram possível representar artisticamente os
problemas concretos de seu tempo, sem preconceito ou convenção. E renovam a arte
ao focalizar o cotidiano, desprezado
pelas correntes estéticas anteriores. Os personagens dos romances realistas-naturalistas
estão muito próximos das pessoas comuns, com seus problemas do dia a dia e suas
vidas medianas, cujas atitudes devem ter sempre explicações lógicas e
científicas. A linguagem é outra preocupação importante: deve se aproximar do
texto informativo, ser simples, utilizar-se de imagens denotativas, e as
construções sintáticas devem obedecer à ordem direta.
b.
Preferência pelo presente
Os realistas-naturalistas
deram preferência ao momento presente: as narrativas estavam ambientadas num
tempo contemporâneo ao escritor. Com isso, a crítica social ficaria mais
concreta. Nesse sentido, a literatura passou a denunciar o que havia de ruim na
sociedade. Outro aspecto dessa preferência pelo momento presente era o
detalhismo com que se enfocava a realidade explicável pela proximidade com os
fatos narrados.
c.
Personagens tipificados
Os personagens dos romances realistas-naturalistas são
buscados na vida diária e sempre são representativos de uma determinada
categoria: um empregado, um patrão; um proprietário, um subalterno; um senhor,
um escravo, e assim por diante. Consistem em personagens típicos, ou tipos,
espécies de caricaturas, com traços definidos, comportamentos previsíveis e,
basicamente, sem alterações durante a narrativa. Os tipos permitem estabelecer
relações críticas entre o texto e a realidade histórica em que ele se insere.
REALISMO/NATURALISMO EM PORTUGAL
O
Realismo português tem seu marco inicial em 1865, com a Questão coimbrã, entrou
em decadência a partir de 1890, extinguindo-se após a morte do escritor Eça de
Queirós, em 1900.
O
surgimento do movimento realista português ligou-se a um grupo de intelectuais
– a geração de 1870 – liderado por
Antero de Quental e do qual faziam parte Oliveira Martins, Teófilo Braga,
Guerra Junqueiro, entre outros. Muitos foram influenciados pelo Realismo
francês, profundamente anticlerical, antiburguês e antirromântico.
O
movimento iniciou-se em Coimbra, com a polêmica literária travada pelos
jornais, mais conhecida como a Questão
coimbrã, em 1965, data em que o poeta romântico Antônio Feliciano de
Castilho, representante da “escola de Lisboa”, ao escrever elogios num
posfásico à obra Poema da mocidade,
de autoria de Pinheiro Chagas, censurou o estilo poético da “escola coimbrã”, citando
os nomes de Antero de Quental e Teófilo Braga. Foi o quanto bastou para que
viesse uma resposta de Antero de Quental, através dos folhetos denominados Bom senso e bom gosto e A dignidade das letras e as literaturas
oficiais.
Logo
se formaram grupos partidários de uma e de outro lado. Durante os anos de 1865
e 1866, digladiaram-se românticos e realistas. Românticos pregando a tradição;
realistas, a revolução.
LINHAS DE PENSAMENTO DO
REALISMO/NATURALISMO EM PORTUGAL:
- A. Crítica ao tradicionalismo vazio da sociedade portuguesa
De acordo com os jovens de Coimbra,
o tradicionalismo era fruto de uma educação romântica, convencional e distante
da realidade. Para eles, o escritor tem uma missão a cumprir, e deve haver um
compromisso dele em relação à verdade social.
- B. Crítica ao conservadorismo da igreja
Tendo em vista a importância do
catolicismo em Portugal, os realistas criticavam seu conservadorismo voltado
para o passado, pois impedia o desenvolvimento natural da sociedade.
- C. Visão objetiva e natural da realidade
O escritor realista construía seus
personagens através de tipos concretos, observados em sua relação com o meio. O
comportamento desses tipos deveria ser definido pelos caracteres psicossociais,
isto é, pela influência do ambiente em que vivem.
- D. Preocupação com a reforma da sociedade
Desejo de democratização do poder
político; por meio de amplas reformas sociais; diagnósticos de problemas
sociais e apontamento de soluções reformistas de caráter socialista.
- E. Representação da vida contemporânea
Estabelecimento de conexões
rigorosas de causa e efeito entre os fenômenos observados, ou seja, frutos da
observação concreta.
PRINCIPAIS AUTORES REALISTAS:
ANTERO DE QUENTAL
Antero Tarquínio de Quental nasceu nos Açores em 1842,
de família aristocrática. O clima intelectual de Lisboa, para onde foi aos 14
anos, e o de Coimbra, onde iniciou o curso de direito, logo influenciaram o
jovem, que abandonou o projeto de tornar-se padre e mergulhou entusiástico na
luta que sua geração empreenderia contra a chamada “educação burguesa”.
Em 1865 publicou Odes modernas, livro de poemas
considerado o marco inicial do Realismo/Naturalismo português. Participou
ativamente da Questão Coimbrã. Partiu para Paris naquele mesmo ano. Lá contraiu
uma doença não diagnosticada. Começava uma fase de sofrimento, que o levou a
refugiar-se em sua terra natal, onde permaneceu pouco tempo. Regressou a
Lisboa, aí exercendo intensa atividade política. Foi um dos mentores das Conferências do cassino. A morte do pai
levou-o de volta aos Açores. A moléstia de Antero foi-se agravando e, junto com
ela, uma crise de pessimismo cada vez mais profunda – nítida nos poemas
escritos nessa fase. Aos 49 anos, cometeu suicídio.
Antero de Quental, como já foi
dito anteriormente, foi líder da Questão Coimbra e como tal ele precisava
divulgar suas ideias revolucionárias e reformistas e é o que vemos em Hino à razão, onde o poeta dirige-se à
razão, afirmando que seu coração só a ela se submete, enquanto que os
conservadores da época em Portugal eram adeptos do Romantismo onde a emoção era
mais valorizada. Outro aspecto importante deste soneto é quando o eu-lírico nos
deixa entender que as pessoas voltadas para o futuro, e não para o passado, são
pessoas fortes.
Em O palácio da Ventura, também de Antero de Quental, as questões
filosóficas eternas do ser humano ficam evidentes quando o poeta compara-se a
um cavaleiro andante que busca o palácio onde mora a felicidade e quando ele
chega lá só há silêncio, escuridão e dor.
OBRA
Antes das Odes modernas (1865), publicou poemas em jornais e revistas.
Depois, três obras de publicação póstuma: Raios
de extinta luz (1892), Cartas (1921)
e Prosas (3 volumes publicados entre
1923 e 1931).
Segundo o crítico Massaud Moisés, a
trajetória poética de Antero de Quental pode ser assim resumida: num primeiro
momento, seus poemas revelam um entusiasmo juvenil marcado pelo
sentimentalismo. São poemas que apresentam muitos clichês românticos e
ultrarromânticos. O segundo momento revela uma crise profunda de consciência,
resultante do conflito entre a formação cristã e a adesão às novas ideias
científicas e filosóficas da época. Odes
modernas é desse período. O terceiro momento denuncia o mergulho do poeta
na própria consciência, questionando a Morte, a Verdade, a Razão, etc.
EÇA DE QUEIRÓZ
José Maria de Eça de Queirós nasceu
em Póvoa de Varzim em 1845. Filho
natural passou a infância e a adolescência longe do pai. Estudou no Porto e
mais tarde formou-se em direito em Coimbra. Em Lisboa substituiu a atividade
jurídica pela de jornalista e ficcionista, tendo colaborado com vários jornais
da época.
De uma viagem ao Oriente, onde Eça
fez a cobertura jornalística da inauguração do canal de Suez, resultou o livro O Egito. Sua estreia literária ocorreu
com a obra O mistério da estrada de
Sintra, escrita em parceria com Ramalho Ortigão.
Foi ministro dos Negócios
Exteriores, diplomata em Cuba, na Inglaterra e finalmente em Paris, onde
faleceu em 1900.
Eça de Queirós é considerado um
dos maiores prosadores portugueses de todos os tempos e em O crime do padre Amaro, Eça critica uma das principais
instituições de Portugal na época, a Igreja. Neste romance realista, um padre,
Amaro, se apaixona por uma mulher, Amélia, e desse relacionamento nasce um
filho que foi morto de forma misteriosa. Amélia não suporta a perda do filho,
que foi encarregado de ser levado por uma ama a mando do padre Amaro
recém-nascido, e morre.
Em O primo Basílio, também de autoria de Eça de Queirós, estava tudo
perfeito no casamento de Luísa e Jorge, quando aparece Basílio, primo de Luísa.
Na ausência do marido, Luísa fica amante de Basílio e Juliana, empregada da
casa, descobre cartas de amor enviadas pelos dois amantes e passa a chantagear
a patroa. Luísa recorre a Sebastião, amigo de Jorge, que a ajuda procurando por
Juliana e a ameaçando a por fim nas chantagens e com a saúde precária, Juliana,
vem a falecer vítima de um aneurisma cerebral. Mesmo com a ajuda de Sebastião,
Jorge descobre a traição graças a uma carta de Basílio enviada à Luísa que ele
acabou lendo, pois sua mulher estava enferma e quando ela se recupera Jorge a
procura para tirar-lhe explicações e Luísa, emocionada, fica doente novamente e
vem a falecer pouco depois.
No romance realista O primo Basílio, Eça de Queirós critica
abertamente a sociedade burguesa de Lisboa, principalmente as mulheres da alta
sociedade que passavam horas a fio lendo romances românticos e ainda passavam
de boas samaritanas quando na verdade eram egoístas e arrogantes, esta
arrogância de Luísa fica explícita na relação desta com seus subalternos e
principalmente com a Juliana.
OBRA
Romance: O mistério da estrada de Sintra (1871); O crime do padre Amaro (1875); O primo Basílio (1878); O mandarim (1879); A relíquia (1887); Os maias (1888);
A ilustre casa de Ramires (1900); A cidade e as serras (1901).
Escreveu
ainda contos e literatura de viagens. A produção literária de Eça de Queirós
pode ser esquematizada:
1ª fase – obras com influência romântica. É o caso de O mistério da estrada de Sintra.
2ª fase – obra de caráter realista/naturalista. É a melhor
parte de sua produção literária. Nela se enquadram O crime do padre Amaro, O primo Basílio, Os maias. Nesta fase, o
autor analisa e critica principalmente a burguesia e o clero.
3ª fase – é a obra que revela meditação sobre o significado
da existência humana e dos destinos da pátria. Nessa fase enquadram-se A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras. A proposta de
volta ao campo e de cultivo dos valores nacionais são o ponto de maior realce
dessa fase.
Deixou
ainda contos de indiscutível qualidade literária. Eça de Queirós é considerado
um dos maiores prosadores portugueses de todos os tempos.
CONCLUSÃO:
Na poesia realista de Portugal
usavam-se, principalmente a medida nova, ou seja, com versos decassílabos e de
forma fixa como o soneto, por exemplo. Portanto a estética não difere muito da
romântica. O que se destaca de novidade na poesia realista portuguesa é o
conteúdo que passa a ser mais racionalista, como em Hino à razão e filosófica como em O palácio da Ventura, além de tratar de temas do cotidiano, tendo
como seu principal representante, Cesário Verde.
A prosa realista portuguesa,
também se destaca em seu conteúdo, por usá-lo abertamente mais como uma forma
de criticar as injustiças da sociedade, que entreter e fugir da realidade como
vemos nos romances românticos. Embora, os finais dos romances realistas sejam
mais tristes, não que isso não se note nos romances românticos, como em Lucíola
ou em Til de José de Alencar ou ainda em Amor de Perdição do português Camilo
Castelo Branco, a sensação de ler uma obra da prosa realista de Eça de Queirós é
a mesma de estar dentro de um filme do cotidiano da vizinhança, das fofocas,
das intrigas, ou seja, bem mais próxima e natural da vida do ser humano.
REFERÊNCIAS:
FARACO, Carlos Emílio. MOURA,
Francisco Marto. Língua e Literatura. Faraco & Moura. Editora Ática. 16ª
edição. 1996. http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_409866.shtml
http://www.lendo.org/como-fazer-uma-resenha/
http://educacao.uol.com.br/biografias/camilo-castelo-branco.jhtm
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Literaturas:
brasileira e portuguesa: volume único. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2009.
Diego Sanches - O trabalho está fácil de entende, uma linguagem facilitada. Ótima a pesquisa, o Realismo é uma maneira geral, é utilizado na história da arte para designar representações objetivas, sendo utilizado como sinônimo de Naturalismo.
ResponderExcluirFoi uma reação ao Romantismo, em meados do século XIX.
Um dos pintores realistas foi Jean-Baptiste Corot ( 1796 - 1875 ).
Parabéns.
Sobre o Poema da Mocidade que tem relação com o desencadear da Questão Coimbrã o autor censura a juventude que prostitui a sua lira e a sacrifica à ambição e ao ceticismo, demarcando-se veementemente dessa posição. David de Oliveira Souza N4O letras.
ResponderExcluirNadya ferreira-A arte da segunda metade do século XIX deixou de lado a emoção e a subjetividade românticas,valorizando a razão e a objetividade,caracterizando um estilo denominado realismo.
ResponderExcluirQue bom que vocês gostaram do trabalho! Foi eu que fiz a análise das obras! Realmente, Eça de Queiroz me surpreendeu bastante, pois eu já tinha ouvido falar dele, mas eu nunca tinha lido nenhum prosador português! André Luiz, 3932062314
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns, o trabalho de vocês ficou muito bom, realmente são obras maravilhosas.....
ResponderExcluirSANDRA VASCONCELOS.
Não tem como não parabenizar vocês pelo trabalho, ficou show de bola, não que os outros trabalhos não ficaram , mas desse eu gostei bastante! E o Realismo tem origem francesa, acho chiquérrima essa língua! E temos como exemplo a nossa querida Professora que fala francês! Adoro... Parabéns a todos!!!
ResponderExcluirEsqueci de por meu nome rsrs, Jackeline Silva 3962896331
ExcluirGostei bastante do trabalho, muito bem explicado. Gostei da parte sobre Eça de Queiroz pois tive a oportunidade de ler O primo Basílio no ensino médio. Parabéns pessoal. Evellyn Moura - N40
ResponderExcluirRealismo é o que mais gosto na literatura, claro os romances são maravilhosos mas na minha humilde opinião só servirão para iludir as mulheres e alguns homens tolos ou que se faziam de tolos, para que as mulheres acreditassem em amor e mais amor. Assim quem leu o romance de Eça de Queiroz notou que os livros que Luísa lia era apenas romances, essa critica que Eça faz contra o romance é extremamente maravilhoso, quando a mulher começou a ler o que a sociedade deixou ela ler? livros românticos com a finalidade de domesticá-las para seus marido ogros, ou cornos no caso de Jorge, e ainda voltando aos homens que se fingiam de tolos, O primo Basílio é a forma real de que os homens só pensavam em si mesmo e nunca no amor, como Luísa tanto sonhava e por esse amor ou paixão, mas que acabou com a morte dela e Basílio continuou na boêmia.
ResponderExcluirSidnéia Miato RA 3932062312
Principais representantes na poesia: Antero de Quental, Cesário Verde, Gomes Leal, Gonçalves Crespo, Guerra Junqueira, João de Deus.
ResponderExcluirNa prosa: Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão.
Eça de Queiros marcou seu nome na história da Literatura mundial com seus romances de temas cotidianos, linguagem irônica, direta e com senso de humor inteligente.Ele ficou conhecido também pela descrição de locais e análise de comportamento e caráter, repleto de pessimismo, que por sinal também marcaram a obra do nosso conhecido Machado de Assis.
ResponderExcluirEronilde Lima de Santana Silva - Antero publica uma carta aberta a Castilho, denominada "Bom-senso e Bom gosto", onde rebate as críticas do mestre romântico ("Levanto-me quando os cabelos brancos de V.Exa passam diante de mim
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