segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Auto da Alma - SANDRA VASCONCELOS - NADYA FERREIRA - DANIELE LANZA



Auto da Alma

Considerado a mais notável produção do ciclo de moralidade e doutrinação religiosa, foi feito em homenagem à rainha D. Leonor e representado (a seu pedido) perante o rei D. Manuel, em Lisboa, nos Paços da Ribeira, em 1518. Todo o drama constitui uma alegoria da luta eterna entre o Mal e o Bem. As personagens que o constituem são: Alma, Anjo Custódio, Igreja, Sto. Agostinho, Sto. Ambrósio, S. Jerónimo, S. Tomás e dois diabos.
O autor mostra-nos a Alma humana, no decurso do seu peregrinar terreno, alternadamente submetida às solicitações do Diabo e do Anjo da Guarda. Assim, a alegoria serve para tratar o tema da redenção. Os textos litúrgicos cantados na última parte do auto confirmam o seu caráter de moralidade.
De acordo com o próprio autor, da mesma forma que são necessárias as estalagens para repouso e refeição dos caminhantes, é necessária a existência de uma estalajadeira para ajudar as almas que caminham desta vida para a outra (a morte) nos momentos de repouso e das refeições. Esta estalajadeiro é a Santa Madre Igreja que, auxiliada pelos seus quatro doutores (Sto. Agostinho, Sto. Ambrósio, S. Jerónimo e S. Tomás), serve à mesa as insígnias da paixão de Cristo. Trata-se de uma alegoria da Parábola do Samaritano que nos conta como o mundo é apenas uma passagem para a vida verdadeira e eterna.


O auto da Alma, composto por Gil Vicente e representado à corte em 1518, é uma peça de caráter religioso e moralista. O autor é considerado um inovador do que até então era chamado teatro litúrgico e sua versatilidade em relação aos temas, original.
Para tratarmos da construção Dramática da peça é mister que retomemos a concepção dada desde o teatro clássico que era dividido em tragédia e comédia, sendo a primeira de linguagem erudita e vocabulário elevado, altamente apreciado pelas classes cultas e o segundo com linguagem e personagens populares, há também o épico, que são narrativas utilizadas para narrar os feitos sublimes de um povo ou de uma personagem que os representem.
Quanto a estrutura teatral, o autor divide suas peças em épicas, que as vezes não tem um conflito , mas sim os germes do conflito, ou seja, não uma relação de causa e efeito entre os episódios, e a estrutura dramática, em que todos os personagens devem participar do conflito que é de profunda tensão do início ao fim da peça. Alguns autores preferem chamá-las de peças de enredo (dramáticas), aquelas que se desenvolvem uma estória de ação contínua, com começo meio e fim.
É o caso do auto da alma em que é criada uma situação de conflito, a alma que tem que voltar à sua unidade divina, porém aparecem interesses divergentes e as vontades contrárias se debatem, é o caso do diabo que a toda hora tenta seduzir a alma à se render às riquezas terrais e o anjo que a toda hora tem que voltar para dissuadir a alma das tentações do Diabo. Assim as ações dos personagens desencadeia uma relação tensa, que é representada por todas as paradas da alma pelo caminho para ouvir as tentações diabólicas, o que intriga o receptor se chegou a hora da alma render-se e entregar-se aos pecados. A resolução chega quando a alma e o anjo chegam em frente da estalajadeira (Madre Santa Igreja), e essa lhe absolve dos pecados por lágrimas e pelo sofrimento de Jesus para a redenção dos pecados. Este é um modelo típico de construção dramática que leva a tensão do início ao fim.
Em caráter de exemplo, veremos como se desenvolve a construção épica, ou como preferem outros autores denominar fragmentada ou descontinuada. É o caso de outra peça de Gil Vicente, “O auto da barca do inferno”, em que não há qualquer personagem que gere conflito e há uma sucessão de episódios mais ou menos idênticos e sem relação entre eles, a ação é constituída de uma única situação, variando somente os exemplos. O mundo é apresentado no seu espaço e variedade. A estrutura é chamada técnica de desfile. Nessa peça o conflito essencial já é resolvido desde o começo do auto. Organização: Professor Francisco Muriel
Para uma leitura inicial, interessam-nos neste momento os traços mais evidentes e exteriores do texto. Nesse auto vicentino, temos uma personagem-título, a Alma, que vive as duas grandes partes em que a moralidade se desenvolve. Num primeiro momento, a Alma percorre um caminho em companhia do Anjo Custódio que tenta levá-la adiante, em direção à Igreja (Estalajadeira), e por conseguinte a Deus, e também em companhia do Diabo, que disputa a Alma puxando-a para trás. Esse conflito se delineia entre o bem e o mal, entre o material e o transcendental e insere discussões sobre o livre-arbítrio, os valores afirmativos de otimismo, força de vontade e sobre os desejos humanos, permitindo ainda um diálogo com a parábola do Bom Samaritano, todos temas recorrentes no universo medieval.
Além da Alma, do Anjo Custódio e do Diabo, há ainda as personagens provenientes da tradição cristã, que representam a Igreja e seus doutores (Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Tomás e São Jerônimo), que aparecem durante a refeição mística que simboliza as estações da paixão de Cristo.
Tendo sido escrito para ser encenado numa quinta-feira santa, o Auto não poderia deixar de ter elementos religiosos, ensinamentos cristãos para quem o assiste ou
lê.

Gil Vicente nasceu em 1465, morreu em 1536, nacionalidade portuguesa, ocupação dramaturgo, poeta, casou-se com Branca Bezerra, teve dois filhos. Depois de enviuvar casou-se com Melícia Rodrigues, de quem teve três filhos. Presume-se que tenha estudado em Salamanca, Espanha.


 SANDRA VASCONCELOS - NADYA FERREIRA - DANIELE LANZA

3 comentários:

  1. Gil Vicente escreveu, encenou e ate representou mais de quarenta autos: autos de moralidade, autos cavaleirescos e pastoris, farsas, e alegorias de temas profanos. No entanto, é preciso lembrar que, por vezes, na mesma peça encontramos elementos característicos de vários desses gêneros. David de Oliveira Souza N 40.


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  2. Gil Vicente embora tenha se mostrado menos teocêntrico em determinados momentos,ele não escondia a formação medieval. Suas críticas eram todas voltadas aos indivíduos e nunca as instituições. É de impressionar como, durante cinco séculos, o texto (Auto da Alma) é muito fácil de se compreender, com pouquíssimas palavras caídas em desuso.

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  3. Parabéns pelo ótimo trabalho, vocês arrasaram.Cíntia furtado

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